domingo, 8 de novembro de 2009

AS MENTIRAS DOS RELIGIOSOS: A BÍBLIA FALA EM DINOSSAUROS?

Até onde vai a criatividade e o desespero dos religiosos ao tentar provar que seu livro sagrado é a verdade absoluta? Quando se tenta provar algo insustentável até um gênio fica parecendo um idiota. Acuados diante da pergunta “A Bíblia fala em dinossauro?” os fundamentalistas inventaram os mais mirabolantes disparates a fim de fazer com que a Bíblia corresponda aos fatos, desde afirmar que homens e dinossauros viveram juntos a declarar que os dinossauros nunca existiram... Sim, todos aqueles fósseis encontrados não passam de armações criadas por cientistas evolucionistas, ateus e anticristos com o único intuito de afastar a pessoas de Deus. Se os fósseis de dinossauros não são armação, então as ossadas dos gigantes bíblicos (Nephilim) também são reais:

http://entrelinhaz.files.wordpress.com/2008/11/071214-giant-skeleton-big.jpg


A maioria dos religiosos de hoje acha esta hipótese demasiado absurda, mas no princípio, quando os registros fósseis ainda eram escassos, ela foi amplamente sustentada pelos fundamentalistas. À medida que novas evidências foram emergindo, os fundamentalistas foram ficando cada vez mais acuados, não podendo mais negar o fato de que os dinossauros existiam mesmo. Ora, como podem ter existido dinossauros se, de acordo com o relato literal da Bíblia, seguido pela maioria dos fundamentalistas, o mundo tem menos de 6.000 anos e os lagartos gigantes, segundo os cientistas, foram extintos há mais de 65. 000. 000 de anos? A saída era afirmar, sem nenhuma evidência, que a datação dos cientistas estava errada e que a bíblica estava correta. Sendo assim, os dinossauros não poderiam estar extintos antes da existência dos homens, a menos que tivessem sido criados e destruídos no dia seguinte. Eles teriam convivido com os homens antes da sua drástica extinção – outros fundamentalistas, apoiados na criptozoologia, afirmam que os dinossauros viveram por muito mais tempo que pensam os cientistas e que ainda existem algumas espécies em algum lugar escondido do mundo, como o Monstro de Loch Ness ou o Mokele-Mbembe... Já resolvemos dois problemas, mas... se homens e dinossauros já coexistiram, por que não existem registros arqueológicos ou bíblicos que mencionem esta coexistência? Sim, porque animais tão grandes não poderiam passar assim despercebidos, não é mesmo?


Mas a Bíblia fala sobre dinossauros, replicam os fundamentalistas. Mas ela não usa este termo, uma vez que ainda não existia naquele tempo. Acho que esta é a única coisa coerente que os criacionistas dizem sobre dinossauros na Bíblia, o resto não passa de uma série infinita de pilhérias. É certo que se os dinossauros tivessem mesmo convivido com os seres humanos, estes chamariam os lagartos por outro nome, mas... quem sabe não poderíamos saber do que se trata? Segundo a maioria dos sites criacionistas, o termo hebraico “tanniyn”, mencionada cerca de trinta vezes no Antigo Testamento, poderia ter sido utilizado para se referir aos dinossauros. No entanto, esta palavra não é utilizada com um significado específico. Ela foi traduzida de várias formas como “dragão”, “serpente”, “mostro marinho”, “baleia” ou “besta”. Obviamente o termo não se refere a um animal específico, mas a “feras” ou “bestas” em geral. É um termo demasiadamente vago para poder ser utilizado para referir-se a algum animal específico. Mesmo que estivesse se referindo a dinossauros, não daria pra saber.

Outros alegam que alguns monstros relatados na Bíblia, como o Leviatã e o Behemoth, são descritos mantendo grandes semelhanças com os dinossauros encontrados nas escavações. Alguns especialistas resolveram traduzir “behemoth” como “hipopótamo” ou “elefante”, mas na Bíblia ele é descrito como tendo uma “cauda como cedro”. Ora, o cedro é uma árvore bem grossa, obviamente o behemoth não seria um elefante ou hipopótamo, uma vez que estes têm a cauda fina. Então, o mostro em questão só pode ser um dinossauro! Notaram a complexidade desta lógica? Fundamentalistas identificam o Behemoth com o Braquiossauro. No entanto, o braquiossauro não se alimentava de pasto devido sua enorme altura. O nosso outro amigo é o Leviatã, muitas vezes identificado com um monstro marinho ou crocodilo. No entanto, no livro de Isaías, o Leviatã é chamado de “serpente fugitiva” e “serpente tortuosa”, logo em seguida fala de um “dragão que está no mar”, mas este não parece ser o leviatã. O Leviatã é, muitas vezes, identificado com uma serpente ou até mesmo a serpente do Éden, como é o caso. Ora, o leviatã também não é um crocodilo, portanto só pode ser um dinossauro! Por que não passaria de mito? Por acaso também o basilisco é real?

A posterior identificação de tais seres com animais “naturais” pareceu benéfica a princípio. Isso deixava a Bíblia com menos referências a seres fantásticos. A Bíblia, o livro dos livros, não poderia estar contaminada pela mitologia de povos primitivos e ignorantes, mas é exatamente isso que acontece. Alguns teólogos querem que tais relatos estejam sustentados por fatos reais, mas eles podem ter sido inventados sem nenhum apoio na realidade, como muitos outros mitos. Os monstros Leviatã e Behemoth não passam de mito, o primeiro inspirado em Tiamat, o dragão-serpente dos mares, oriundo da mitologia babilônia, e o segundo inspirado em Bahamut (notem a semelhança entre as palavras), o peixe gigantesco da mitologia árabe pré-islâmica.

Apesar da insistência totalmente infundada dos fundamentalistas sobre a menção de dinossauros na Bíblia, o que mais choca é vê-los defender que eles foram contemporâneos do homem e que ainda existem!!! Obviamente, 6.000 anos não seria suficiente para colocar em extinção toda a ordem dos grandes dinossauros. O raciocínio é coerente se for levado por este lado, mas se torna absurdo quando analisamos os fatos e as evidências. Dizem os criacionistas que, depois que saíram da Arca de Noé (não olhem pra mim assim, são eles que estão dizendo) os dinossauros foram caçados ostensivamente ou não foram capazes de sobreviver às novas condições climáticas do mundo (Seleção Natural?). No entanto, estes fatores não foram o bastante para aniquilar todos os dinos, existindo descrições e representações dos lagartos gigantes em diversas culturas além da hebraica. Dizem os criacionistas que a maioria dos animais mitológicos, como o dragão, é, na verdade, dinossauros. O blog A Lógica do Sabino tenta nos convencer que o dinossauro Dracorex teria influenciado a criação dos dragões mitológicos. Ele apresenta uma citação que diz “O Dracorex tem uma semelhança extraordinária com os dragões da antiga China e da Europa medieval”. Se o Marcos Sabino entendesse um pouco de cultura oriental saberia que este dinossauro não se parece muito com o dragão chinês, que se assemelha mais a uma serpente gigante com patas. Não há provas de que certos animais fantásticos foram inspirados em seres reais, quanto menos em dinossauros.

Quando não tentam forçadamente provar que os antigos animais mitológicos foram construídos com base em figuras de dinossauros, tentam mostrar evidências arqueológicas e paleontológicas de que homens e dinossauros foram contemporâneos. Fazem isso apontando objetos de procedência duvidosa, evidências que não são reconhecidas pela comunidade científica ou com objetos comprovadamente fraudulentos, como as pedras de Ica, o estegossauro do Camboja ou as peças de Acambaro. Já vi até o “doutor” Adauto Lourenço mostrar as pedras de Ica como prova de homens e dinossauros foram contemporâneos! Será que este “cientista” não sabe que estas pedras são falsificadas? Ou teria feito isso de má fé? O mais interessante é que os criacionistas aceitam prontamente qualquer coisa que confirme suas “teorias” malucas sem nem antes investigar se a evidência é genuína.

Outras “evidências” de que homens conviveram com dinossauros são as supostas pegadas humanas encontradas ao lado de pegadas de dinossauros. A mais famosa delas sendo a do rio Paluxy, no Texas. Antes de nos perguntarmos se estas pegadas são fraudes, seria interessante nos perguntarmos por que nunca encontraram um esqueleto humano ao lado do esqueleto de um dinossauro? Não precisa nem ser humano, poderia ser de um antílope ou qualquer outro mamífero moderno. Por que os a comparação entre a idade de um fóssil e a camada geológica em que foi encontrado não mostra nenhuma contradição, como se as espécies fossem surgindo e desaparecendo em tempos diferentes, exatamente como diz a Teoria da Evolução? Será que Deus enterrou propositalmente todos os dinossauros e seus contemporâneos na mesma camada de forma que parecesse um padrão evolucionista? Pra quê? Voltando às pegadas, a maioria delas não é fraude, mas apenas resultado da erosão que se parece com pegadas humanas, fato admitido até pelos Adventistas . Mas pra quem quer ver a presença de homens ao lado de dinossauros, isso se torna um prato cheio.

Por fim, existem aqueles que, não só afirmam que homens e dinossauros foram contemporâneos, como afirmam que ainda existem muitos ‘lagartos terríveis’ andando por aí. Admitindo que o mundo tenha apenas 6.000 anos, é até coerente dizer que tão pouco tempo não foi suficiente para extinguir a grande ordem dos dinossauros. Mas onde estão as evidências de que ainda existem dinossauros? Um site criacionista tenta provar que esta imagem (http://ekbaldaci.sites.uol.com.br/fenomeno-polvo.gif) se trata de um homem ao lado de um dinossauro, quando o bicho se trata claramente de uma pedra e um tronco. O mesmo site usa como argumento o caso do celacanto, que foi considerado extinto até ser encontrado um exemplar em Madagascar. É verdade que foi encontrado um celacanto, mas ele é bem diferente dos gigantescos celacantos do período cretáceo. Outro site, além de postar notícias sem nenhuma comprovação, como dizer que “Nativos do Congo dizem ter visto criaturas parecidas com dinossauro” e que “Em 1977, pescadores japoneses viram um réptil enorme no sul do Oceano Pacífico”, tenta nos convencer de que tartarugas e dragões de Komodo são dinossauros (?!). Talvez ele pense que todo animal muito antigo é dinossauro... Os dinossauros são da ordem Dinossauria, enquanto os dragões de Komodo são da ordem Squamata e as tartarugas, Testudinata. Embora sejam répteis e sejam bem antigos, não são dinossauros.

A tentativa dos fundamentalistas em adaptar a Bíblia aos fatos é fracassada. O termo hebraico “tanniyn” é demasiado vago, não servindo para identificar animal algum. Pode ser usado para designar um animal muito grande ou monstruoso, real, como as baleias, ou não. Leviatã e Behemoth são apenas animais mitológicos, como esfinge, quimera, fênix, dentre outros. Não há nada que nos leve a crer que se refiram a seres reais, menos ainda a dinossauros, já que estes estavam extintos há muito tempo quando o livro de Jó foi escrito. Também é falha a busca por evidências arqueológicas e paleontológicas que provem uma convivência de homens com dinossauros. A maioria das evidências criacionistas são fraudes (mas não feitas por eles) ou erros de interpretação. Finalmente, o absurdo de afirmar a existência de dinossauros no nosso tempo também não se sustenta. Talvez até exista algum, mas não conhecemos nenhuma evidência disso e os que a defendem, fazem isso mais por paixão que por razão.

Sendo assim, a pergunta permanece no ar: se o mundo tem apenas 6.000 anos, como querem os fundamentalistas, o que aconteceu com os dinossauros? Por que Noé não os salvou? Por que a Bíblia ou outro documento antigo não os descreve? Por que não há evidências de que foram contemporâneos dos homens? Por que ninguém os retratou? Por que nunca foi encontrado um Dino ao lado de um animal moderno? Por que foram extintos? De onde vierem estes fósseis tão antigos? Seria melhor voltar atrás e dizer que os dinossauros nunca existiram, que são fraudes dos maçons ou que os fósseis foram colocados por Deus para testas nossa fé ou pelo Diabo para nos confundir...

Igor Roosevelt

Publicado no Recanto das Letras em 08/11/2009
Código do texto: T1912105

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

JESUS É UM MITO!


É interessante notar que os debates em torno de Jesus sempre tratam de sua divindade ou de sua humanidade, como se fosse certo que existiu um homem chamado Jesus que fundou o Cristianismo. No entanto a verdade é que até hoje ninguém jamais encontrou uma prova sequer da existência de tal pessoa. Isso quem diz não são cientistas incrédulos, mas os próprios estudiosos cristãos afirmam isso. Dizem que a única “prova” da existência de Jesus são os Evangelhos, mas ignoram – ou fingem que não sabem – quem nenhum dos Evangelhos canônicos foi escrito por testemunhas oculares dos fatos, ou seja, tais relatos não têm nenhum valor histórico.

Diante da falta de evidências, muitos cristãos, em sua ingenuidade, alegam que a ciência também nunca provou que Jesus não existiu. Não sabem que quem afirma é que tem o dever de provar, e não quem nega. Na ausência de provas, o mais sensato e racional é aceitar que tal coisa nunca existiu. Digamos, por exemplo, que alguém me acusa de ter roubado algo dela. Eu não preciso provar que não roubei, ela é quem tem que provar que sim, porque é ela quem está afirmando, e quem afirma que tem que provar. Mas se, no entanto ela alegar que está faltando a coisa em questão, aí sim eu deverei rebater, mesmo que esse argumento seja muito fraco. Eu poderia dizer que só porque ela não encontrou algo, não quer dizer que alguém o roubou, ela pode simplesmente tê-lo perdido. Mas se mesmo assim ela insistir e disser que me viu roubar seu objeto – que parece ser um argumento bem mais satisfatório – eu poderei dizer simplesmente que somente o testemunho da vítima não é válido, que seria preciso mais pessoas. Pronto. Eu não precisei provar que sou inocente, mas simplesmente refutar as “provas” de quem me acusa. Outro exemplo é o do filme Matrix. Se estivéssemos todos dentro de uma Matrix, não poderíamos saber que estamos. Ninguém poderia provar que não estamos, mas também ninguém poderia provar que sim. Desta forma, quem tem que provar é quem afirma que estamos. Na ausência de provas, ou com provas inconsistentes, a razão escolhe que não estamos numa Matrix. Assim sendo, a ciência não precisa provar que Jesus não existiu, mas somente refutar o que lhes apresentam como prova. Na ausência de prova, opta-se pela passividade.

Muitas pseudo-provas da existência de Jesus foram apresentadas ao longo da História. A mais famosa delas é o Santo Sudário, que alegavam ter pertencido ao próprio Jesus. No entanto, exames com carbono 14 mostraram ser falso o Sudário – e se Jesus tivesse mesmo existido, pra que precisariam falsificar uma prova? Outras menos conhecidas são textos de historiadores que viveram numa época próxima á de Jesus. Somente dois historiadores de uma época próxima à de Jesus teriam registrado algo sobre ele, Flávio Josefo e Tácito. Josefo o cita em dois parágrafos e também Tácito. No entanto exames modernos provaram serem falsos os parágrafos em que estes historiadores, mas isso já desconfiavam há séculos. Os padres da igreja simplesmente escreveram o que bem quiseram entre os parágrafos do livro dos respectivos autores. Eles precisavam de provas históricas para vencer seus adversários, então forjaram uma – se Jesus tivesse mesmo existido, pra que precisariam forjar uma prova? No livro de Josefo, o que está escrito é um depoimento de quem tinha uma profunda fé na divindade de Jesus. Se Josefo acreditasse mesmo que Jesus era o filho de Deus, porque teria escrito somente dois parágrafos? Além do mais, há muito tempo já se conhecia cópias dos livros que não tinham nenhuma referência a Jesus. Tácito escreveu por volta de 120 d.C. e no seu texto fala sobre a condenação de Jesus por Pôncio Pilatos. Mas nessa época muitos acreditavam que esse fato era real, o que leva a crer que Tácito simplesmente repetiu o que ouvia dos outros – outra prova é que no trecho em questão, Tácito chama Pilatos de “procurador”, como na época era conhecido ser o cargo de Pilatos. Mas Pilatos não era procurador, era “governador” ou “prefeito”. Isso mostra que o trecho em questão ou não era de Tácito, e sim de um leigo que não sabia a diferença entre procurador e prefeito, ou que o próprio Tácito estava apenas preocupado em registrar o pensamento de sua época.

Se Jesus foi mesmo tão importante como dizem, por que nenhum historiador registrou nada sobre ele? Se ele não foi tão importante, a ponto de não merecer nenhuma menção nos anais da História, por que deveríamos acreditar ser ele o filho de Deus onipotente? Hoje em dia ainda existem registros do governo de Pilatos, seus planos, seus relatórios, suas obras e seus julgamentos. Está tudo lá. Mas em nenhum existe referência a um judeu que fazia milagres ou que se chamasse Jesus, que foi crucificado, ou que tenha ganhado o respeito de Pilatos. Existem documentos ricamente detalhados sobre Pilatos e nada sobre Jesus, nem sobre seus discípulos, nem sobre seus milagres. Outro fato interessante é que na Bíblia diz que Herodes mandou assassinar crianças com menos de dois anos. No entanto nenhum historiador da época registrou tal acontecimento, isso nunca existiu. O ocultista francês Eliphas Levi, nos dá uma interpretação alegórica sobre este fato. Diz ele que o texto não fala de crianças em si, mas dos iniciados em Cabala Judaica, que tem seus anos contados depois que adentram no aprendizado de ciências ocultas. Assim sendo, não foram crianças que foram assassinadas, mas sim “iniciados” com menos de dois anos. Nem foi Herodes quem mandou a chacina, e sim Janée, que era algo como um grande sábio Cabalista que teve seu posto ameaçado pelo talento de Jesus. Levi tira este relato do Talmude dos judeus, que temos muitos motivos para desconfiar de sua veracidade. A parte do Talmude que fala sobre Jesus foi escrita muito depois da suposta morte de deste, o que nos leva a desconfiar que eles apenas pegaram a os Evangelhos e fizeram uma adaptação. Embora defenda a existência real de Jesus, Levi também afirma seu caráter mitológico.

Outra explicação para a lenda do infanticídio – mais coerente que a balela de Levi – é que os evangelistas tentaram traçar um paralelo com a história de Moisés, onde houve também um infanticídio, e Moisés também fugiu para o Egito. Dizem não ter sido por maldade que fizeram tal comparação, e eu acredito que não tenha sido mesmo. Dizem que era comum para os judeus daquela época traçar uma história parecida com as dos grandes heróis hebreus, mas eu creio que é por falta de imaginação mesmo...

Só resta agora os Evangelhos como “prova”. Mas estes podem ser descartados. O mais antigo dos Evangelhos é o de Marcos, escrito por volta do ano 70 d.C. Seguido de Mateus, Lucas e João – embora a ordem que encontramos na Bíblia não seja esta. Não só por conta da época tardia em que foram escritos, mas também por cometerem gafes horríveis é que estes documentos podem ser descartados como falsos. O mais antigo destes é o de João, escrito por volta do ano 100 d.C. – uns dizem 120. Se foi mesmo João quem escreveu tal evangelho, ele deveria ter mais de 100 anos quando o escreveu, perguntar-se-ia então: porque demorou tanto para escreve-lo? Os Evangelhos foram escritos em grego, não em aramaico, que era a língua falada em Israel naquela época. Alguns teólogos dizem que era assim para atingir maior número de pessoas, mas a verdade é que as pessoas que escreveram os Evangelhos não sabiam falar aramaico nem hebraico!!! Como assim? Os próprios discípulos de Jesus não sabiam falar hebraico nem aramaico? Os que escreveram os Evangelhos não... Existem várias provas de que quem escreveu os Evangelhos eram estrangeiros e pouco sabiam sobre a cultura judaica. Marcos, por exemplo, diz que depois de cruzar o mar da Galiléia, Jesus encontrou um homem possesso por vários demônios em Gerasa. Então Jesus ordenou que os demônios entrassem nos 2.000 porcos que passavam por ali e estes se precipitaram no mar e se afogaram – sem contar que isso daria um prejuízo enorme para o proprietário dos animais. O que o evangelista não sabia era que Gerasa fica a 50 km do mar da Galiléia!!! Ou seja, os pobres porcos tiveram que caminhar mais que uma maratona para achar um lugar pra se precipitarem? Mateus, vendo a gafe, mudou o nome do lugar para Gedara, que fica a 8 km – um pouco mais perto – mas em outro país. Mais tarde os copistas mudaram o nome para Gerdesa, que fez parte da costa do mar da Galiléia (ALFREDO BERNARCHI).

Este é apenas um dos vários erros gritantes que a Bíblia contém. Se contar que os monges copistas alteravam os textos para seus próprios fins. Antes do Concílio de Nicéia, no século IV, os textos hoje canônicos não eram considerados sagrados, portanto não era pecado adulterá-los. Naquela época circulavam vários Evangelhos, que hoje são chamados de apócrifos. Todos tinham igual relevância, e cada “corrente” cristã tinha seus evangelhos preferidos. O então imperador, Constantino Magno, com fins mais políticos que espirituais, convocou então o Concílio de Nicéia, para unificar as várias “correntes” cristãs numa única religião universal, a Católica. Foram chamados então os padres e os principais representantes de cada igreja para que fossem ESCOLHIDOS os textos que fariam parte do livro sagrado. Não se sabe qual critério foi utilizado para tal escolha, mas aqui os protestantes ficam contra a parede: a Igreja Católica, que eles tanto abominam, escolheram os textos que eles chamam de sagrado e nem sequer sabem por que uns foram escolhido e não os outros. Em vão é que se alega a vontade do Espírito Santo, pois como pode o Espírito de Deus servir a um bando de pecadores, interesseiros, dominadores...

Além de não haver nenhuma prova do Jesus histórico existem inúmeros motivos para crer que ele não passava de um mito. Não entenda aqui a palavra “mito” como sinônimo de “mentira”, mas como uma explicação alegórica e simbólica de algum fenômeno da natureza. Quem sabe os criadores do mito de Jesus sequer quisessem que alguém acreditasse na sua existência de fato. Talvez fosse apenas uma forma poética de tratar de um fenômeno muito comum, como o são todos os mitos. Convém dizer também que o Cristo, mesmo sendo um mito, não foi criado pelos cristãos, mas pelos essênios. Cerca de 100 anos antes de Cristo os essênios já praticavam muitos rituais do cristianismo como a eucaristia e já falavam em um salvador que chamavam de CRESTUS. Como pode? Antes mesmo de Jesus nascer os essênios já praticavam inúmeros rituais do cristianismo? Isso deu margem à errônea interpretação de que Jesus era um essênio e que aprendeu muitos rituais e liturgias deste povo. Os essênios valorizavam a humildade e a vida acética, a caridade e falavam por parábolas – coisa que os budistas também já faziam antes mesmo dos essênios. Praticavam a cerimônia do pão e do vinho como se fossem o sangue e o corpo de CrEstus. Isso tudo muito antes do suposto Jesus Cristo ter nascidos. Os romanos simplesmente assimilaram esta crença, assim como tinham feito com a religião grega e depois com o mitraismo, modificando-a para seus próprios interesses. Crestus era um mito para os essênios. Talvez eles mesmos não acreditassem na sua existência de fato. Os romanos tomaram esse mito e depois lhe deram vida própria. Destruíram tudo e todos que pudessem se contrapor a esta “verdade”. No ano 70 da era cristã os romanos invadiram Jerusalém e destruíram todos os documentos dos essênios para que não fossem comparados o Cristo da igreja romana com o Crestus dos essênios e não questionassem o dogma de Jesus. Desde a sua fundação que a Igreja Católica persegue e mata quem se opõe a ela e perseguiu sobretudo os judeus porque estes sabia da verdade, sabiam que Jesus nunca tinha existido e por isso não se converteram. Mas apesar de toda a violência da Igreja e toda forma de tentar evitar que descobrissem o que há de mitológico – e diria até plágio – em Jesus, ainda existem formas de provar que tudo não passou de uma farsa.

Jesus é um personagem baseado no Crestus dos essênios, que por sua vez não passa de um mito solar, síntese de vários outros mitos de vários outros povos. Jesus é apenas uma alegoria para o sol. Vejamos por que: Jesus nasceu no dia 25 de Dezembro – embora em nenhum lugar da Bíblia esteja escrito, isso é defendido pela Igreja Católica – de uma virgem; três reis vieram celebrar seu nascimento; teve doze discípulos; era chamado de “a luz do mundo”; faziam milagres; morreu numa cruz e ressuscitou três dias depois. Isto é apenas uma alegoria para o solstício de inverno. Essa é uma época em que a terra se inclina, apontando o hemisfério sul em direção ao sol. Num modelo geocêntrico parece que o sol está caminhando para o sul. No dia 22 de Dezembro ele pára de rumar e fica neste ponto por três dias, o que seria a morte simbólica do sol. Neste ponto, acima dele fica a constelação de cruzeiro do sul, por isso diziam que o sol morreu na cruz. No dia 25 de Dezembro ele volta a rumar para o norte, por isso diz-se que ele nasce no dia 25 de Dezembro. Em muitos calendários antigos o ano começa no mês de virgem, por isso dizem que o sol nasce da virgem. Seus doze discípulos nada mais são que as doze casas do zodíaco por onde o sol passa durante sua trajetória anual. No dia 25 o sol se alinha também com a estrela Sírius, que é a estrela mais brilhante nessa data, e por sua vez se alinha com as Três Marias, que seriam os reis que celebram o nascimento do sol. Obviamente por se tratar do sol é que Jesus era chamado de “a luz do mundo” e seus milagres nada mais são que o milagre da vida.

A igreja tentou muitas vezes ocultar e repreender esta interpretação, mas ela mesma não conseguiu se desvincular de muitos traços mitológicos do culto ao sol. Para os judeus o dia santo era o Sábado, já para os cristãos era o Domingo. Eles mudaram o dia sagrado por conta do culto ao sol. Para os povos pagãos, o Domingo era o dia do deus sol e é por isso que ainda hoje em inglês se chama “Sunday”, ou seja, “dia do sol”. Também desde as primeiras pinturas cristãs, Jesus é mostrado com uma auréola na cabeça, que não é nada mais nada menos que um halo, luz que emana dos astros, ou seja, do sol. Também sua coroa de espinhos nada mais é que uma metáfora. Os espinhos são os raios do sol que emanam da coroa do astro-rei. Em algumas gravuras antigas também dá pra notar que a auréola de Jesus emana raios, ou seja, uma clara referencia ao culto do sol. Nos primórdios do cristianismo, os mortos eram enterrados com a cabeça votada para o leste, onde o sol nasce. Este era um costume dos egípcios, ligado ao deus RA, outra divindade solar. Também o mito de Jesus não tem nada de original. As semelhanças que ele tem com outros mitos como Mitra, Krishna e Horus são impressionantes. Vejamos o que há de semelhante...

Mitra era uma espécie de messias dos persas de cerca de 600 anos antes de Cristo. Filho do deus Aura-Mazda, viria livrar o mundo do seu irmão maligno, Ariman.
“Mitra nasceu de uma virgem em 25 de Dezembro.
Era considerado um professor e um grande mestre viajante.
Era chamado “o Bom Pastor”.
Era considerado “o Redentor, o Salvador, o Messias”
Era identificado com o leão e o cordeiro.
Seu dia sagrado era domingo (“Sunday”), “Dia do Senhor”, centenas de anos antes de Cristo.
Tinha sua festa no período que se tornou mais tarde a Páscoa cristã.
Teve doze companheiros ou discípulos.
Executava milagres.
Foi enterrado em um túmulo.
Após três dias levantou-se outra vez.
Sua ressurreição era comemorada cada ano” (ALFREDO BERNACCHI)

Krishna é um mito ainda mais antigo, cerca de 2000 anos anterior a Cristo. Trata-se de um avatar do Deus Vishnu – um avatar é como se fosse a personificação ou encarnação de um deus... sugestivo, não? Vejamos:

“Krishna nasceu da Virgem Devaki (“Divina”)
É chamado o “Pastor-Deus”.
É a segunda pessoa da trindade.
Foi perseguido por um tirano que requisitou o massacre dos milhares dos infantes.
Trabalhava milagres e maravilhas.
Em algumas tradições morreu em uma árvore.
Subiu aos céus” (ALFREDO BERNACCHI).

Notem também o semelhança dos nomes “Krishna” e “Cristo”. Sendo que Krishna é muito anterior a Cristo, o que se supõe?

Há também muitas semelhanças com Buda. Ele nasceu de uma virgem, era considerado “o bom pastor”, aboliu a idolatria, pregava a paz e a humildade, falava por parábolas, foi tentado pelo demônio e fez um “sermão da montanha” – sim... até o nome é o mesmo.

Mas na minha opinião o mais instigante de todos são as semelhanças que o mito de Jesus tem com o de Hórus do egípcios. A lenda de Hórus tem milhares de anos a mais que a de Jesus e as semelhanças são impressionantes.

“Hórus nasceu de uma virgem em 25 de Dezembro.
Teve 12 discípulos.
Foi enterrado em um túmulo e ressuscitado.
Era também a “Maneira, a Verdade, a LUZ, O Messias, Filho Ungido de Deus, o Pastor Bom. Etc.
Executava milagres e ressuscitou um homem, El-Azar-Ur, dentre os mortos. [que lembra até o nome de Lázaro]
O epíteto pessoal de Hórus era “Iusa”, “o Filho sempre tornando-se” de “Ptah”, o “Pai”.
Hórus era chamado “o KRST”, ou “Ungido” [que lembra Kristo] por muito tempo antes que os cristãos duplicaram a história.” (ALFREDO BERNACCHI)

As semelhanças não param por ai. Em alguns lugares que pesquisei diz que Hórus morreu numa cruz também, que sua figura tinha cabelos longos e barba, que desceu ao inferno para enfrentar seu inimigo Set e que foi traído por um de seus discípulos, Tifão. Hórus ressuscitou El-Azar-Ur (se tirar o “E” fica “Lazarur”) que em egípcio era o nome de uma constelação, a da múmia. Quando o sol passava pro ela, esta constelação se iluminava, por isso diziam que a múmia ressuscitava. Quando ao discípulo traidor, é uma mera questão astrológica. Como os signos do zodíaco são os discípulos, há sempre o traidor, que é justamente o signo de escorpião, representado por Judas na historia de Jesus.

Há muito tempo atrás eu já tinha lido muita coisas destas como a história Buda e Krishna. Tinha visto muitas semelhanças com a história de Jesus, fiquei impressionado, mas minha mente moldada aos dogmas cristãos não permitiam que eu pensasse que eram mais que coincidências. Por muito tempo foi assim, mesmo depois que deixei de ser cristão não negava a existência do Jesus histórico. Mas depois voltado aos mesmos velhos mitos e aprofundando-me mais no que eu havia lido vi que não poderiam ser meras coincidências. Juntando ao fato de que nunca encontraram prova alguma da existência de Jesus e a repressão histórica que a Igreja impôs aos seus adversários, pra mim fica claro que nunca existiu um homem Jesus, que tivesse criado o cristianismo. Notem que Paulo de Tarso que era da época de Jesus, embora não tivesse o visto, poderia ter seu testemunho validado. Mas ele quase não fala do Jesus humano. Parece mais com o Crestus dos essênios, um ser desprovido de existência real. Pra mi fica claro que o cristianismo foi criado pelos romanos e séculos de repressão fez com que ele vivesse até os nossos tempos.

REFERÊNCIAS:

A Ciência dos Espíritos; Eliphas Levi.
Deus e os Homens; Voltaire.
Sinto Muito Mas Jesus Cristo Não Existiu; Alfredo Bernacchi.
O Catolicismo É Um Plágio?; Max Sussol.
Revista Galileu, Fevereiro de 2008, nº. 199. É Tudo Verdade?; Cláudio Julio Tognolli.

Igor Roosevelt

Publicado no Recanto das Letras em 06/07/2008
Código do texto: T1067416

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O DIABO EXISTE?


As respostas bíblicas para esta pergunta são ambíguas e vagas. Isto porque alguns defendem que a Bíblia não deve ser lida literalmente, o que dá margem a inúmeras interpretações. Mas geralmente os cristãos acreditam piamente na existência de uma entidade que encerra em si a essência da maldade. Sem perguntar como é possível que um ser criado santo e puro pudesse se tornar algo completamente perverso e egoísta, saem por aí proclamando causas externas a coisas que são da responsabilidade dos humanos.

Comecemos nossa análise pela Bíblia. É fato que o nome de Satã - e seus supostos pseudônimos - são mencionados na Bíblia. A maioria das pessoas esclarecidas atribui isso a uma espécie de mal interior, o que me parece bem mais coerente. Outros dizem arbitrariamente que se trata de um ser real, existente em si mesmo e independente de nós. É interessante notar que as menções ao Diabo, Satanás, Demônio, são abundantes no Novo Testamento, mas não no Antigo. O tal anjo caído é citado claramente primeiro no livro de Jó. Além deste livro, aparece também no livro de Crônicas e no livro de Zacarias. Uma vaga aparição é aquela da serpente do livro de Gênesis e outra no livro de Isaías. Existem referências a Satã em alguns textos apócrifos Hebreus, como no livro dos Jubileus (entre 135 a.C a 105 a.C) e no Testamento dos Doze patriarcas (entre 109 a.C e 106 a.C) e na literatura apocalíptica judaica.

Os cristãos se atiram numa batalha ferrenha contra Satã, mas não os antigos hebreus. A luta dos antigos hebreus inicialmente era contra os ídolos, não contra os demônios. E para os hebreus os ídolos eram apenas estátuas e a adoração a eles era proibida simplesmente porque desagradava a Deus. Ao que parece os hebreus não tinham uma noção de mal absoluto antes da era de Jó. E por que será? Perguntaria um espírito crítico. No tempo de Jó os hebreus estavam cativos na Babilônia e provavelmente tiveram contato com outras culturas, como a persa, absorvendo da idéia de Ahriman, o “mal intencionado”, o deus do mal de Zaratustra, como sendo o culpado do mal que eles estavam sofrendo. Mas diferentemente do que é para os cristãos, o Deus dos hebreus não era um deus todo bondoso. Ele era a causa de todas as coisas, tanto boas como ruins. Em Isaías está escrito: “eu crio a luze a escuridão. E faço tanto o bem como o mal. Eu, o Senhor, faço todas estas coisas” ( Is; 45.7). Assim, para os hebreus, o demônio era como um empregado de Deus. Além do mais, a palavra Satanás não é um substantivo próprio. Para os hebreus que viveram pouco antes da Era Cristã, o tal adversário era uma espécie de promotor com a função de acusar os réus no dia do julgamento ou testar a fé dos humanos. Mas aqui ele não tem liberdade pra fazer o que bem quer, ele só faz o que Deus ordena. Também o é o vocábulo grego “Diabolos”, donde surge “Diabo” que é a maneira da qual Satã é chamado no Novo Testamento. Esta palavra significa “acusador”, ou seja, promotor. Existem partes muito interessantes na Bíblia que provam isto e que geralmente é negligenciada pelos crentes. Existem claras referências a um “espírito mal da parte de Deus” (Jz 9.25, 1Sm 16.14, 18.10 e 19.9). Qual é o deus bondoso que mandaria espíritos malignos atormentar seus filhos?

No caso da serpente do Gênesis, é provável que Moisés, o suposto autor do Pentateuco, sequer conhecesse a lenda de Satã. Muito menos Abraão, o patriarca do povo judeu. Se Satanás é mesmo um ser real, porque Deus esconderia esta verdade dos seus servos mais amados? É curioso que o relato da queda dos anjos deveria ser dito no primeiro livro, mas somente no Apocalipse de São João, o último livro da Bíblia é que se conta, supostamente, a queda dos anjos. E é somente neste livro que se diz que a serpente do Gênesis é o mesmo Satã. Inspirações divinas à parte, porque parece que somente as pessoas do tempo do apóstolo João sabiam de tal coisa? É provável que o relato do Gênesis seja simplesmente uma fábula, já que serpente em hebraico diz-se "nahash", que é sinônimo de "astúcia". Assim sendo, pode ser que o que Moisés queria dizer é que a astúcia dentro do homem é quem disse para eles desobedecerem a Deus. Tudo não passa de uma sábia alegoria. Os antigos judeus não acreditavam em um mal em pessoa.

E quanto ao Novo Testamento? Os apóstolos de Jesus dão muita ênfase ao Diabo, até mais que a Deus. No tempo de Jesus existiam muitos dos já citados textos apocalípticos. Nestes textos dava-se muita importância aos demônios, mas eram apenas histórias populares e literárias. No tempo de Jesus a elite judaica assimilou muitas das crenças populares presentes nos textos apocalípticos e incorporaram à religião, mas logo abandonou estas crenças, povo novamente Satã como um ser abstrato, a despeito do cristianismo, que continuou batendo nessa mesma tecla por milênios. Mas ao que parece, para os cristãos primitivos o Diabo também era um ser abstrato, inclusive no apocalipse de São João e na passagem da tentação de Cristo. Para Paulo de Tarso, não deveríamos confiar em anjo algum, sendo que o Cristo já tinha vindo para ser o mediador entre os homens e Deus, ou seja, os anjos eram totalmente inúteis. Talvez ele conhecesse a lenda de Satã, mas não lhe dava muita importância e nem fazia distinções entre anjos bons e maus. Somente depois que os apóstolos morreram é que os cristãos demonizaram os deuses pagãos Asmodeu, Astaroth, Baal, Baal-Berith, Dagon, Moloch entre outros, que para os hebreus eram apenas estátuas. Até o deus Poseidon dos gregos foi demonizado e seu tridente, um mero instrumento de pesca, se tornou um símbolo do Mal e os deuses pagãos foram mostrados como demônios ou o próprio Satã tentando usurpar para si os louvores que eram de Deus "por direito".

Para alguém que se baseia na razão para explicar a realidade fica claro que a idéia de demônios foi absorvida pelo contato com outras culturas. Em nenhum momento, além do livro de Jó, fala-se claramente de um "mal em pessoa" e só uma menção ao Diabo em toda a Bíblia não é bastante para validar sua existência. Vale lembrar que, segundo algumas especulações, o livro de Jó nem foi escrito por um hebreu, mas por um árabe. "Em nenhum momento não!", diria um crente. "E o Apocalipse?". O trunfo dos cristãos é o texto escrito por São João onde se fala muito sobre um tal "dragão", duas bestas e um Anti-Cristo, que são identificados como sendo o próprio Belzebu. Conta também um relato sobre umas estrelas que foram jogadas na terra, que os cristãos dizem ser uma evidência da batalha no céu. Neste texto Satã é desmascarado, suas origens e ambições são mostradas e ele é identificado com a antiga serpente do Gênesis. E agora? Como duvidar da existência de Satã diante de "provas" tão convincentes? Será mesmo? É interessante que o trunfo dos cristãos se torne meu golpe de misericórdia no Diabo como é compreendido hoje.
O que nos diz o Apocalipse?

“E viu-se um sinal no céu: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça. E estava grávida e com dores de parto e gritava com ânsia de dar à luz.
E viu-se outro sinal no céu, e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres e, sobre as cabeças, sete diademas.
E sua calda levou após si a terça parte das estrelas do céu e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe devorasse o filho.
E deu a luz um filho, um varão que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono.
E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias.
E houve batalha no céu: Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão; e o dragão batalhava com seus anjos, mas não prevaleceram; nem mais o seu lugar se achou no céu” (Apocalipse 12.1-8).

Este trecho causa arrepio nos cristãos e torna-se a prova definitiva da existência de Satã e da queda dos anjos, porém eu nunca vi uma interpretação mais irrisória em toda minha vida sobre um texto tão profundo como este. Convém lembrar aos esquecidos que o Apocalipse é um texto esotérico, não no sentido atual, que geralmente remete a feitiçaria e misticismo, mas no sentido que era para os gregos. Esotérico vem de uma palavra quase homônima do grego, que quer dizer "ensinamento reservado aos discípulos de uma escola, que não podia ser comunicado a estranhos"(ABBAGNANO). Era, portanto, dirigido aos cristãos e, por isso, comunicado numa linguagem que os romanos não entendessem. Tentar interpretá-lo de maneira tão simplória é no mínimo uma sandice.

Joguemos luz, então, sobre o que diz realmente o Apocalipse. É preciso ensinar estes cristãos a ler, para que não saiam por aí dizendo coisas que não foram ditas na Bíblia, "pondo palavras na boca de Deus". Note que o texto fala de um "varão", que "há de reger todas as nações com vara de ferro". Quem seria este varão senão o próprio Jesus? Bem, isso nem eu o nego. Note também que há um "dragão", que os crentes insistem em dizer que é Satã, o mal encarnado. O texto fala que o dragão persegue uma mulher para impedir o varão de nascer e depois houve uma batalha no céu. Alguém notou algo estranho? A tal batalha aconteceu depois que Jesus nasceu e depois até que ele morreu ("o seu filho foi arrebatado para Deus"). Se antes de Jesus nascer e morrer Satã ainda não tinha sido expulso do paraíso, quem foi o anjo caído que tentou Adão e Eva? Como Satã pôde ter feito isso se a ainda não era um anjo rebelde e ainda não tinha lutado contra Deus e seus anjos?

O texto parece contraditório, mas não o é. Está em contradição apenas com o que foi nos ensinado, com coisas que não foram ditas na Bíblia. Foi-nos ensinado que Satã foi expulso do céu antes da criação do mundo, mas em lugar algum da Bíblia diz isso, mas diz o contrário, que foi bem depois. Foi-nos ensinado que o Diabo flagela pessoas no inferno, mas na seqüência o texto diz que o dragão foi lançado na terra (Ap 12.9). Foi-nos ensinado que Satã é um ser real, mas este texto não diz isso.

O que nos diz o apóstolo São João? Primeiramente o apóstolo nos fala em "céu" e "terra". Mas o céu e a terra são o mesmo lugar, pois se referem a estados de espírito. Céu é um lugar de pureza, de beatitude, excelência, onde vivem aqueles que obedecem aos mandamentos de Deus. Distantes da terra, que é um lugar de pecado, egoísmo, perdição, mundo sensível da matéria, enfim, é o que chamamos de "mundano". Mas a Bíblia afirma que ninguém está isento do pecado, por conta da desobediência dos nossos primeiros ancestrais, nem mesmo os santos. O Dragão é o símbolo do pecado, mas não um ser que existe independente de nós. Ele estava tanto no "céu" como na "terra", e por estar mesmo entre os mais santos conseguiu arrastá-los para o mundo do pecado ("sua calda arrastou após si a terça parte das estrelas do céu -os santos-e lançou-as sobre a terra"). Note que as estrelas a que João se refere não são anjos, caso contrário o apóstolo iria entrar em contradição ao dizer que os anjos foram expulsos, depois da batalha, para a terra, pois, afinal, como os anjos poderiam ser jogados na terra se eles já estavam na terra antes da batalha?

Depois o livro diz que "Miguel e seus anjos batalhavam contra o Dragão". Miguel, ou Mikael para os íntimos, significa "o que é igual a Deus" em hebraico. E quem seria igual a Deus senão o próprio Jesus, o Cristo? Provavelmente os Testemunhas de Jeová estavam certo ao afirmarem que Miguel é o próprio filho de Deus. Depois de vencer o Dragão, Jesus, ou melhor, Miguel o expulsou do céu. Isto quer dizer que aquele que aceitasse Jesus como seu salvador agora estava em um céu onde não existia pecado, sendo que o Dragão foi expulso do coração dos santos e hoje vive somente na terra, entre os pecadores mundanos. Ao morrer Jesus venceu o pecado, na forma do Dragão, juntamente com seus seguidores (anjos): "eles o venceram pelo sangue do cordeiro", ou seja, Jesus já estava morto quando venceu o Dragão.

Existe ainda o enigma da mulher. Quem disse que se tratava de Maria deve estar um pouco arraigado nos credos católicos. A mulher tinha uma "coroa de doze estrelas", o que simboliza as doze tribos de Israel. Jesus, o dito Messias, veio do seio do povo Judeu, simbolizado pela mulher. Depois de expulso o Dragão perseguiu a mulher (Ap 12.13). Não conseguindo pegá-la perseguiu os filhos dela (Ap 12.17), ou seja, os cristãos.

O Apocalipse nos de Satã e que ele foi expulso pelo "sangue do cordeiro". Não há nenhum anjo rebelde aqui, é apenas o pecado no homem. Ele já existia antes de Jesus vir ao mundo e é a "antiga serpente, o diabo e Satanás". Era o egoísmo recôndito no coração do homem, que somente muito tempo depois é que foi expulso do convívio daqueles que guardam os mandamentos de Deus.

E quanto à tentação do deserto? Não foi Jesus, o Cristo tentado por um Mal real? Provavelmente se tratava de um mal interno como os outros demonstrados aqui. "Mas como?"- Perguntaria um crente-"se Jesus, o filho de Deus não tinha nenhum mal interior para que pudesse tentá-lo? Somente um mal exterior poderia fazer isto." Não é bem assim. A Bíblia às vezes mostra-se contraditória e surpreendente. Veja o que diz Lucas 18; 18,19:

"E perguntou-lhe um certo príncipe, dizendo: Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna? Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, que é Deus."

Aqui Jesus confessa claramente que ele também tem maldade dentro de si. Sendo assim, pode ser que fosse mesmo o mal interior de Jesus que o tentava no deserto. Sem contar que esta passagem é um plágio descarado da tentação de Buda. Conta a lenda que, sentado sob a árvore Bo, Gautama Sakyamuni, o Buda, estava prestes a atingir o Nirvana quando foi tentado pelo deus Kama-Mara (Desejo, ou Amor e Morte), para que se desligasse de sua busca. Muitos identificam este deus com um demônio. Também Jesus foi chamado ao deserto como uma forma de peregrinação espiritual. Não me parece que exista apenas coincidência nestas duas histórias.


Outra parte que é citada pelos cristãos é no livro de Isaías. No capítulo 14, versículo 12 ao 15 diz:

12. Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha alva do dia? Como foste cortada por terra, tu que debilitavas as nações?
13. E tu trazias no teu coração: eu subirei ao céu, por cima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, na banda dos lados do norte.
14. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.
15. E contudo derribados serás no inferno, ao mais profundo do abismo.

Eis o trecho que suscitou incontáveis disparates. Aqui são mostrados os motivos que levaram Satã a se rebelar contra Deus: a vontade de receber seus louvores e ser maior que o Altíssimo. Santo Agostinho traçou o desenho do Satã ocidental baseado nesse trecho. Milton, no seu “Paraíso Perdido” trata-o com mais detalhes. Ambos foram cruciais para formar o retrato do Mal encarnado. Mas o que existe aqui não é apenas um erro de tradução, mas de interpretação. O trecho em questão fala de Nabucodonosor, rei da Babilônia, como ele mesmo diz no versículo 4: “então, proferirás este dito contra o rei da Babilônia e dirás:...” Infelizmente essa parte é negligenciada, intencionalmente ou não, pelos que defendem o capítulo 14 de Isaías como uma revelação sobre Satã. A parte que diz “estrela da manhã” é uma metáfora com o planeta Vênus, como era conhecido por ser a última estrela – como os antigos pensavam que era – a desaparecer quando nasce o dia. Os romanos chamavam o planeta Vênus de Lúcifer (lux fero) e na tradução para o latim preferiram colocar o nome do planeta/estrela, ficando “Como caíste do céu, ó Lúcifer”. Por conta da proliferação da lenda de Satã, este trecho foi visto como uma revelação sobre os anjos caídos e sobre o nome real de Satã: Lúcifer. Talvez o fato de quase toda a população européia durante a Idade Média ter sido analfabeta tenha contribuído para a cristalização de tamanha falta de bom senso, e a dificuldade das pessoas do nosso tempo em interpretar textos tenha feito o mito perpetuar.

Também essa história de rebelião não tem nenhuma novidade. É comum nas religiões antigas essas lendas que relatam inimigos que tentam usurpar o trono dos deuses. No masdeísmo, Ahura Mazda e seus imortais sagrados, uma espécie de anjos, viva em eterno conflito com seu antípoda, Ariman e sua horda de demônios. Na Índia havia a disputa dos Assurs, espíritos do mal que queriam tomar o lugar dos Devas. Na mitologia nórdica quem ameaçava os deuses eram os gigantes e na grega, os deuses viviam ameaçados pelos poderosos titãs, forças do caos e da destruição. Assim sendo, o cristianismo apenas adaptou mitos amplamente conhecidos para explicar a natureza do mal.


Na Idade Média esta idéia distorcida a respeito do mal se proliferou. Pintado nos vitrais das igrejas e na imaginação do povo Satã se cristalizou. Inspirações divinas à parte, é interessante perguntar por que os primeiros hebreus não conheciam um perigo desta dimensão? Por que Deus só o avisou a nós, sortudos cristãos? É evidente que o Diabo é apenas uma criação dos hebreus por contato como outras culturas. Depois de tanto ser temido ganhou vida, corpo, chifres e as feições do inofensivo deus grego Pã. A palavra Diabo vem do grego "diabolos", que quer dizer "caluniador”, “acusador”. A palavra demônio também vem de uma palavra grega, "daimóm", que quer dizer simplesmente "espírito". Até onde sei - corrijan-me se eu estiver errado - sequer existe uma palavra hebráica para designar uma generalidade de entidades maléficas, vulgarmente "demônios", ou seja, eles não existiam para os hebreus. Existe sim a palavra hebraica Shatan, donde deriva o nome Satanás, que significa "obstáculo", "opositor", "contraventor", ou simplesmente "inimigo" mesmo. Mas além de não servir para outros seres, esta palavra quase não aparece no Antigo Testamento.

Partiremos agora para o lado mais filosófico da coisa. Os epicuristas perguntavam aos estóicos o seguinte dilema: “Por que Deus não destrói o Mal? Deus não destrói o mal ou porque ele não pode, ou porque não quer. Se ele quer, mas não pode então é impotente, e isto um deus não pode ser; se pode, mas não quer é cruel, e isto também um deus não pode ser; se não pode e não quer então é impotente e cruel; se pode e quer, o que é a única resposta satisfatória para esta pergunta, então por que Deus não o destrói?” Tomás de Aquino afirmou que o mal não tem uma existência real, que é sem substância, como a escuridão e a cegueira. Estes são apenas uma privação da luz ou da visão. De que é feia a escuridão? De nada, absolutamente. Também o mal é da mesma natureza, é apenas uma negação da bondade, uma ausência de bem. O filósofo alemão Leibniz seguiu o pensamento de Tomás de Aquino.

Sendo assim, se existe mesmo o tal Satã, ele foi criado por Deus e este não poderia produzir um efeito mal, pois tudo que dele provém é bom em si mesmo. Satã só poderia se tornar O Mal se separado totalmente de Deus e do bem. Mas mesmo que tudo que ele fizesse fosse destituído de bondade, ele ainda seria bom, pois foi criado por um Deus todo-bondoso. Admitir que Satã tem uma parcela de bondade é uma heresia em religião, mas totalmente plausível se fôssemos nos basear pela razão. Sendo assim, não pode existir um mal absoluto. Mas mesmo que o tal anjo caído tivesse se distanciado completamente de Deus isso não melhoraria a situação do Altíssimo. Este, sendo onisciente, saberia desde toda a eternidade o que aconteceria se criasse Satã, saberia que ele iria se distanciar Dele e que iria se emprenhar em afastar a humanidade do criador – com êxito, ao que parece. Desta forma, como poderia Deus permitir estas coisas? De fato, ele não poderia interferir no livre-arbítrio dos anjos, mas poderia não criá-lo se soubesse o tamanho da catástrofe que isso iria causar. Também não há como mudar o que aconteceu, pois o que aconteceu já era conhecido por Deus desde a eternidade. Isso não condiz com a existência de um Deus absolutamente inteligente, poderoso e bom. Se existe Satã é porque Deus quis que ele existisse, Deus quis que ele tentasse Adão e Eva no Paraíso, Deus quis que ele desviasse seus filhos do caminho da retidão, pois poderia ter evitado tudo isso e não o fez.

Guaita ilustra melhor este pensamento no seu livro “O Templo de Satã". Ele nos joga o seguinte dilema: "Espantamo-nos que os teólogos agnósticos, que favorece tão lúgubre inépcia, mostrem-se infelizes e indignados se um amigo de lógica inflexível encosta-o à parede e lança à queima-roupa o capitoso dilema: Deus, o senhor diz, é todo-poderoso, onisciente, infinitamente misericordioso e bom. Diz por outro lado que a grande maioria dos homens está votada ao inferno... é preciso ser coerente mesmo em teologia. Então Deus quis o mal e o inferno. É em vão que se objeta a inviolabilidade do livre-arbítrio, pois o mau uso feito pelo homem se não foi previsto por Deus, sua onisciência falhou; se foi previsto e não pôde ser impedido, nego seu todo-poder; se previu e podendo evitar não o fez, contesto sua toda - bondade."

Mesmo que a Bíblia afirmasse a categoricamente a existência de Satã – o que ela não faz, uma análise dos nos mostraria que isso é impossível. Não há como um ser que foi criado bom e puro se tornar totalmente seu oposto. Se o mal não é uma coisa real e Satã é puramente mal, então ele não existe. Mas se o mal é uma coisa real, quem o criou? O Deus todo-bondoso judaico-cristão? Embora trechos da Bíblia afirmem que sim, como em Isaías 45, 7, isso parece ser contra o senso-comum daquilo que chamamos cristianismo. Melhor seria ignorar este trecho e dizer que o mal foi criado pelo anjo caído. Mas se ele tivesse criado o mal, ele seria um Criador, assim como Deus, sendo assim elevado à categoria de um deus. O Demônio, Diabo e Satanás nada mais é que uma historinha criada pela igreja para manipular as pessoas pelo medo, para melhor manipulá-las ou para que elas pudessem melhor exercer seus deveres éticos por simples medo do castigo, mas, como bem disse Bertrand Russel, “uma virtude que tem suas raízes no medo não é muito digna de ser admirada”.

REFERÊNCIAS:

REVISTA SUPER INTERESSNTE; Edição 174; março de 2002; editora Abril.
SUSSOL, Max; O Catolicismo é Um Plágio?; Coleção Revelações.
GUAITA, Stanislas de; O Templo de Satã; Editora Três; Biblioteca Planeta.
ABAGNANO, Nicola; Dicionário de Filosofia; Martins Fontes.
BÍBLIA SAGRADA-EDIÇÃO PASTORAL.
TRADUÇÃO DO NOVO MUNDO DAS SAGRADAS ESCRITURAS.
BÍBLIA SAGRADA-NOVA TRADUÇÃO NA LINGUAGEM DE HOJE.
BÍBLIA SABRADA; Sociedade bíblica do Brasil.
BLOOM, Harold; Presságios do Milênio.
VOLTAIRE; Deus e os Homens.


Igor Roosevelt

Publicado no Recanto das Letras em 26/09/2008
Código do texto: T1197901

sábado, 7 de fevereiro de 2009

O DEUS DOS JUDEUS É UMA FRAUDE


No hebraico antigo, a linguagem escrita não utilizava vogais, apenas consoantes. Por considerar sagrado o nome divino, era proibido mencioná-lo e os hebreus substituíram por “Adonai”, traduzido como “Senhor”. Por conta desses dois fatores a pronúncia do verdadeiro nome de Deus se perdeu. O nome de Deus era representado no conjunto cabalístico de quatro letras conhecido como tetragrama ou tratragramaton “YHWH”, também podendo aparecer nas formas equivalentes “YHVH” ou “IHVH”. A junção das consoantes do tetragrama com as vogais do nome “Adonai” (a-o-ai) formou o nome IAHOVAIH, donde surgiu Jeová e, contraindo mais um pouco, Javé. Mas este não era o nome da divindade dos hebreus antigos, é apenas um jogo de letras, um neologismo criado pela junção de duas palavras.

Curiosamente, outro nome com que os hebreus se referiam a Deus e que está gravado nas versões mais antigas da Bíblia é “ELOHIM”, plural de “ELOHI”, que significa “deuses”. Assim, o primeiro capítulo do Gênese em hebraico diz que “No princípio criaram os deuses (ELOHIM) o céu e a terra”. A palavra “Deus” em hebraico (ELOHI ou ELOAH) provém do nome de um deus cananeu, EL. O nome da nação dos hebreus, Israel, é a fusão do nome de três deuses estrangeiros: Ísis, dos egípcios; Rá, também dos egípcios e El, dos cananeus. No entanto o nome original foi adulterado e substituído pelo substantivo próprio “Deus”. Desta forma, as 2.500 vezes em que aparecia a palavra “ELOHIM” no texto original, foram substituídas pela palavra “Eloah”, ou seja, “Deus”, que só aparecia 2 vezes. Isso foi feito intencionalmente para mascarar uma verdade que os arqueólogos e estudiosos já sabem há muito tempo: os antigos hebreus não acreditavam em um único deus! Eles acreditavam que os deuses estrangeiros eram reais, só que os hebreus não podiam prestar-lhes cultos porque eles ajudavam os inimigos a derrotar o povo judeu. Tanto que o segundo mandamento diz para não ter outros deuses, mas não diz que eles não existem. Também no livro de Gênese Deus fala de si constantemente no plural, como quando diz que “o homem se tornou igual a nós, conhecedor do bem e do mal”. Os primeiros cristãos viram nisso uma prova da Trindade no Antigo Testamento, mas os hebreus não acreditavam em um Deus trino e nenhuma outra parte do Antigo Testamento reforça a idéia de uma Trindade.

Outros nomes com que o Deus dos antigos hebreus se apresentava eram “El Shaddai”, o “todos poderoso”; ou “El Sabbaot”, o “deus dos exércitos” de Isaías. No entanto, algumas análises nos fazem crer que não se tratava de um mesmo deus, mas de deuses diferentes. O nome “El Shaddai” significa mais precisamente “deus das montanhas” * (embora seja comumente traduzido como “Deus todo-poderoso”). Eis como Voltaire fala a esse respeito:


“Está dito no primeiro capítulo de Juízes: ‘Esteve o Senhor como Judá, e este despovoou as montanhas; porém não expulsou os moradores do vale, porquanto tinham carros de ferro [Juízes, XI, 24]. ’ Não queremos examinar se os habitantes dessas plagas eriçadas de montanhas podiam ter carros de guerra, eles que nunca tiveram asnos. Basta observar que o deus dos judeus era, então, apenas um deus local, que tinha crédito nas montanhas, mas não nos vales, como todos os outros pequenos deuses do lugar, que possuíam, cada um, um distrito de algumas milhas, como Camos, Moloque, Renfã, Belfegor, Astarote, Baal-Berite, Baal-Zebude e outros pequenos deuses.” (Voltaire, em “Deus e os Homens”, Martins Fontes)


Já o “El Sabbaot”, nome com que era invocado Deus durante a batalha, provavelmente não era o mesmo Deus que é dito no Gênese. Este era, provavelmente o Baal dos fenícios, deus do trovão e um deus violento e agressivo. Há mais semelhanças entre o Javé dos hebreus e o Baal dos fenícios, assim como com o Marduk dos babilônios. Baal enfrentou e derrotou em combate o mostro marinho Yamm. Marduk destrui o dragão Tiamat antes de criar o mundo. Na mitologia hebraica existe o Leviatã, um híbrido do mostro marionho Yamm com o dragão Tiamat dos babilônios, que segundo o livro de Jó, foi derrotado por Deus, provavelmente antes deste ter criado o mundo, assim como o mito de Marduk. O Baal dos cananeus e fenícios, dizem algumas fontes, era também um deus da agricultura, assim como El, identificado com Saturno dos romanos – que não era deus do tempo, equivalente ao Chronos dos gregos como muitos pensam, já que Saturno é anterior à influência grega em Roma. Eu sempre estranhei o fato de o Gênese dizer que Deus descansou no sétimo dia da criação, sendo ele um deus todo-poderoso, não precisaria descansar. Isso ocorre no relato porque o Deus a que ele se refere é um deus agrícola e o significado do seu descanso no “sabbath” é que a agricultura deve parar nesse dia. Ainda hoje a palavra “sábado” tem uma referência a outro antigo deus da agricultura homônimo do romano, mas nórdico nos países de cultura anglo-saxônica, Saturno. Em ingês, sábado diz-se “Saturday” ou seja, “dia de Saturno”. O sábado é, portanto, o dia do deus da agricultura, o El que fala no Gênese. Muitos já devem ter notado as intempéries da personalidade do deus judeu, mas isso ocorre porque eram vários deuses diferentes, como se fossem um só.

O nome com que os hebreus se referiam ao seu deus, “Adonai”, também era o nome usado pelos fenícios para se referirem ao deus Tamuz, outro deus agrícola, que foi ligeiramente transfigurado no mítico Adônis dos gregos. Tudo leva a crer que o “Adonai” que falavam os hebreus era o mesmo Adonai ou Tamuz dos fenícios. Como já foi dito antes, os hebreus acreditavam na existência dos deuses estrangeiros, só que eram proibidos de adorá-los. Eis o porquê de tantos casos em que os hebreus adoravam deuses de outros povos, como Dagon, Moloch, Astarote, etc. Se eles não acreditassem que esses deuses eram reais, não haveria tanta idolatria. O deus El era representando como um touro, por conta disso eram feitas estátuas de cordeiros para representar o deus judeu, numa forma de diferenciá-lo da sua fonte. Em Josué: 24, 14 – 16, o substituto de Moisés fala sobre o culto a deuses estrangeiros dos seus antepassados, dizendo que a população poderia escolher entre cultuar os deuses egípcios e dos amorreus, o deus que os tirou da servidão, o Senhor, Adonai (provavelmente o mesmo dos fenícios).

Mesmo não existindo vogais no nome original do deus dos judeus, estudiosos acreditam ter encontrado o nome sagrado. Através da análise de nomes próprios, donde muitos tinham o nome do deus judeu, foi possível chegar à raiz do nome de Deus. Exemplos de nomes que contém o nome de Deus são “Yehokhakin” (Joaquim)e “Yehoshuah” (Josué ou Jesus), donde se pode notar a presença do radical “Yaho”**, que seria o nome divino proibido de ser pronunciado. A contração de “Yaho” é “Yah”, donde surge a palavra “Hallelu-yah”, ou seja, “Deus seja louvado”. Isso não só revela o nome do Deus de Israel, mas também sua origem. Ao que tudo indica, o nome de Deus, Yaho, foi tirado do nome de uma montanha. Inscrições na sala hipostila do templo erguido por Amenhotep III foram encontradas em escavações arqueológicas em Soleb, na margem esquerda do Nilo onde há uma referência a Yaho, onde fica claro se tratar de uma montanha ao leste do Egito e ao sul da Palestina. Fala sobre o “país dos beduínos de Iahuo”, onde o nome “Iahuo” está precedido do termo “to” que indica lugar. Ou seja, Iahuo não é um deus, mas um lugar. Os madianitas cultuavam nessa montanha o deus dos relâmpagos Iahu, e bem mais tarde os israelitas encontrariam um lugar parecido para abrigar o seu deus, o monte Sinai.

Por que tanta confusão então? Por que os israelitas adoravam vários deuses como se fosse um só? Isso ocorre porque, antes que Israel se unificasse em um reinado forte o povo adotava deuses de outras culturas, mas com a reforma religiosa feita por Josias no século VII a. C. foi declarado que somente um deus existia, então os deuses adotados pelas diversas tribos foram compilados em um só, ignorando suas diferenças e particularidades com fim de unir a população em torno de um deus único. Segundo o arqueólogo Israel Finkelstein, a Bíblia nasceu no século VII a. C. durante o reinado deste monarca. Antes o que havia era uma tradição oral que foi reunida sob a forma do livro hoje mais famoso do mundo. Com efeito, os deuses adorados pelas tribos de Israel foram reunidos sob o nome daquele que era mais conhecido, Yaho, quanto aos outros deuses que foram adorados pelos hebreus foram suprimidos e omitidos na história do povo judeu para ocultar o fato de que o deus Yaho era tão real quanto aqueles outros deuses que foram usados para formá-lo.




* Outra fonte diz que a tradução de El Shaddai é “deus das campinas”.
** Em hebraico se escreve “Yaohw”, nas pronuncia-se “iáorruh”. Notem que há na escrita três letras do tetragrama, “Y”, “H” e “W”. O “W” em hebraico pode ter som, tanto de “V” quanto de “U” ou “O”, nesse caso sendo “U”. A quarta letra, que é a repetição do “H”, desaparece na nossa escrita porque na escrita hebraica, quando o “H” aparece no fim de uma palavra quer dizer que o “H” do meio tem som de “RR”, ficando mais literalmente “YaoHWH” (com todas as letras do tetragrama), na nossa escrita “YAHO” ou “YAHU”.

Sites consultados:

http://str.com.br/Scientia/origem.htm

http://str.com.br/Atheos/qual.htm

http://g1.globo.com/Noticias/0,,MUL652419-9982,00-DEUS+BIBLICO+PODE+SER+FUSAO+DE+VARIOS+DEUSES+PAGAOS+DIZEM+ESPECIALISTAS.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Nomes_de_Deus_no_Juda%C3%ADsmo

http://elderspov.tripod.com/doutrina_nome_Deus_02.htm

http://www.geocities.com/athens/acropolis/2601/eloim.htm

http://www.airtonjo.com/resenhas05.htm

Igor Roosevelt

Publicado no Recanto das Letras (http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1425526) em 06/02/2009
Código do texto: T1425526