domingo, 8 de novembro de 2009

AS MENTIRAS DOS RELIGIOSOS: A BÍBLIA FALA EM DINOSSAUROS?

Até onde vai a criatividade e o desespero dos religiosos ao tentar provar que seu livro sagrado é a verdade absoluta? Quando se tenta provar algo insustentável até um gênio fica parecendo um idiota. Acuados diante da pergunta “A Bíblia fala em dinossauro?” os fundamentalistas inventaram os mais mirabolantes disparates a fim de fazer com que a Bíblia corresponda aos fatos, desde afirmar que homens e dinossauros viveram juntos a declarar que os dinossauros nunca existiram... Sim, todos aqueles fósseis encontrados não passam de armações criadas por cientistas evolucionistas, ateus e anticristos com o único intuito de afastar a pessoas de Deus. Se os fósseis de dinossauros não são armação, então as ossadas dos gigantes bíblicos (Nephilim) também são reais:

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A maioria dos religiosos de hoje acha esta hipótese demasiado absurda, mas no princípio, quando os registros fósseis ainda eram escassos, ela foi amplamente sustentada pelos fundamentalistas. À medida que novas evidências foram emergindo, os fundamentalistas foram ficando cada vez mais acuados, não podendo mais negar o fato de que os dinossauros existiam mesmo. Ora, como podem ter existido dinossauros se, de acordo com o relato literal da Bíblia, seguido pela maioria dos fundamentalistas, o mundo tem menos de 6.000 anos e os lagartos gigantes, segundo os cientistas, foram extintos há mais de 65. 000. 000 de anos? A saída era afirmar, sem nenhuma evidência, que a datação dos cientistas estava errada e que a bíblica estava correta. Sendo assim, os dinossauros não poderiam estar extintos antes da existência dos homens, a menos que tivessem sido criados e destruídos no dia seguinte. Eles teriam convivido com os homens antes da sua drástica extinção – outros fundamentalistas, apoiados na criptozoologia, afirmam que os dinossauros viveram por muito mais tempo que pensam os cientistas e que ainda existem algumas espécies em algum lugar escondido do mundo, como o Monstro de Loch Ness ou o Mokele-Mbembe... Já resolvemos dois problemas, mas... se homens e dinossauros já coexistiram, por que não existem registros arqueológicos ou bíblicos que mencionem esta coexistência? Sim, porque animais tão grandes não poderiam passar assim despercebidos, não é mesmo?


Mas a Bíblia fala sobre dinossauros, replicam os fundamentalistas. Mas ela não usa este termo, uma vez que ainda não existia naquele tempo. Acho que esta é a única coisa coerente que os criacionistas dizem sobre dinossauros na Bíblia, o resto não passa de uma série infinita de pilhérias. É certo que se os dinossauros tivessem mesmo convivido com os seres humanos, estes chamariam os lagartos por outro nome, mas... quem sabe não poderíamos saber do que se trata? Segundo a maioria dos sites criacionistas, o termo hebraico “tanniyn”, mencionada cerca de trinta vezes no Antigo Testamento, poderia ter sido utilizado para se referir aos dinossauros. No entanto, esta palavra não é utilizada com um significado específico. Ela foi traduzida de várias formas como “dragão”, “serpente”, “mostro marinho”, “baleia” ou “besta”. Obviamente o termo não se refere a um animal específico, mas a “feras” ou “bestas” em geral. É um termo demasiadamente vago para poder ser utilizado para referir-se a algum animal específico. Mesmo que estivesse se referindo a dinossauros, não daria pra saber.

Outros alegam que alguns monstros relatados na Bíblia, como o Leviatã e o Behemoth, são descritos mantendo grandes semelhanças com os dinossauros encontrados nas escavações. Alguns especialistas resolveram traduzir “behemoth” como “hipopótamo” ou “elefante”, mas na Bíblia ele é descrito como tendo uma “cauda como cedro”. Ora, o cedro é uma árvore bem grossa, obviamente o behemoth não seria um elefante ou hipopótamo, uma vez que estes têm a cauda fina. Então, o mostro em questão só pode ser um dinossauro! Notaram a complexidade desta lógica? Fundamentalistas identificam o Behemoth com o Braquiossauro. No entanto, o braquiossauro não se alimentava de pasto devido sua enorme altura. O nosso outro amigo é o Leviatã, muitas vezes identificado com um monstro marinho ou crocodilo. No entanto, no livro de Isaías, o Leviatã é chamado de “serpente fugitiva” e “serpente tortuosa”, logo em seguida fala de um “dragão que está no mar”, mas este não parece ser o leviatã. O Leviatã é, muitas vezes, identificado com uma serpente ou até mesmo a serpente do Éden, como é o caso. Ora, o leviatã também não é um crocodilo, portanto só pode ser um dinossauro! Por que não passaria de mito? Por acaso também o basilisco é real?

A posterior identificação de tais seres com animais “naturais” pareceu benéfica a princípio. Isso deixava a Bíblia com menos referências a seres fantásticos. A Bíblia, o livro dos livros, não poderia estar contaminada pela mitologia de povos primitivos e ignorantes, mas é exatamente isso que acontece. Alguns teólogos querem que tais relatos estejam sustentados por fatos reais, mas eles podem ter sido inventados sem nenhum apoio na realidade, como muitos outros mitos. Os monstros Leviatã e Behemoth não passam de mito, o primeiro inspirado em Tiamat, o dragão-serpente dos mares, oriundo da mitologia babilônia, e o segundo inspirado em Bahamut (notem a semelhança entre as palavras), o peixe gigantesco da mitologia árabe pré-islâmica.

Apesar da insistência totalmente infundada dos fundamentalistas sobre a menção de dinossauros na Bíblia, o que mais choca é vê-los defender que eles foram contemporâneos do homem e que ainda existem!!! Obviamente, 6.000 anos não seria suficiente para colocar em extinção toda a ordem dos grandes dinossauros. O raciocínio é coerente se for levado por este lado, mas se torna absurdo quando analisamos os fatos e as evidências. Dizem os criacionistas que, depois que saíram da Arca de Noé (não olhem pra mim assim, são eles que estão dizendo) os dinossauros foram caçados ostensivamente ou não foram capazes de sobreviver às novas condições climáticas do mundo (Seleção Natural?). No entanto, estes fatores não foram o bastante para aniquilar todos os dinos, existindo descrições e representações dos lagartos gigantes em diversas culturas além da hebraica. Dizem os criacionistas que a maioria dos animais mitológicos, como o dragão, é, na verdade, dinossauros. O blog A Lógica do Sabino tenta nos convencer que o dinossauro Dracorex teria influenciado a criação dos dragões mitológicos. Ele apresenta uma citação que diz “O Dracorex tem uma semelhança extraordinária com os dragões da antiga China e da Europa medieval”. Se o Marcos Sabino entendesse um pouco de cultura oriental saberia que este dinossauro não se parece muito com o dragão chinês, que se assemelha mais a uma serpente gigante com patas. Não há provas de que certos animais fantásticos foram inspirados em seres reais, quanto menos em dinossauros.

Quando não tentam forçadamente provar que os antigos animais mitológicos foram construídos com base em figuras de dinossauros, tentam mostrar evidências arqueológicas e paleontológicas de que homens e dinossauros foram contemporâneos. Fazem isso apontando objetos de procedência duvidosa, evidências que não são reconhecidas pela comunidade científica ou com objetos comprovadamente fraudulentos, como as pedras de Ica, o estegossauro do Camboja ou as peças de Acambaro. Já vi até o “doutor” Adauto Lourenço mostrar as pedras de Ica como prova de homens e dinossauros foram contemporâneos! Será que este “cientista” não sabe que estas pedras são falsificadas? Ou teria feito isso de má fé? O mais interessante é que os criacionistas aceitam prontamente qualquer coisa que confirme suas “teorias” malucas sem nem antes investigar se a evidência é genuína.

Outras “evidências” de que homens conviveram com dinossauros são as supostas pegadas humanas encontradas ao lado de pegadas de dinossauros. A mais famosa delas sendo a do rio Paluxy, no Texas. Antes de nos perguntarmos se estas pegadas são fraudes, seria interessante nos perguntarmos por que nunca encontraram um esqueleto humano ao lado do esqueleto de um dinossauro? Não precisa nem ser humano, poderia ser de um antílope ou qualquer outro mamífero moderno. Por que os a comparação entre a idade de um fóssil e a camada geológica em que foi encontrado não mostra nenhuma contradição, como se as espécies fossem surgindo e desaparecendo em tempos diferentes, exatamente como diz a Teoria da Evolução? Será que Deus enterrou propositalmente todos os dinossauros e seus contemporâneos na mesma camada de forma que parecesse um padrão evolucionista? Pra quê? Voltando às pegadas, a maioria delas não é fraude, mas apenas resultado da erosão que se parece com pegadas humanas, fato admitido até pelos Adventistas . Mas pra quem quer ver a presença de homens ao lado de dinossauros, isso se torna um prato cheio.

Por fim, existem aqueles que, não só afirmam que homens e dinossauros foram contemporâneos, como afirmam que ainda existem muitos ‘lagartos terríveis’ andando por aí. Admitindo que o mundo tenha apenas 6.000 anos, é até coerente dizer que tão pouco tempo não foi suficiente para extinguir a grande ordem dos dinossauros. Mas onde estão as evidências de que ainda existem dinossauros? Um site criacionista tenta provar que esta imagem (http://ekbaldaci.sites.uol.com.br/fenomeno-polvo.gif) se trata de um homem ao lado de um dinossauro, quando o bicho se trata claramente de uma pedra e um tronco. O mesmo site usa como argumento o caso do celacanto, que foi considerado extinto até ser encontrado um exemplar em Madagascar. É verdade que foi encontrado um celacanto, mas ele é bem diferente dos gigantescos celacantos do período cretáceo. Outro site, além de postar notícias sem nenhuma comprovação, como dizer que “Nativos do Congo dizem ter visto criaturas parecidas com dinossauro” e que “Em 1977, pescadores japoneses viram um réptil enorme no sul do Oceano Pacífico”, tenta nos convencer de que tartarugas e dragões de Komodo são dinossauros (?!). Talvez ele pense que todo animal muito antigo é dinossauro... Os dinossauros são da ordem Dinossauria, enquanto os dragões de Komodo são da ordem Squamata e as tartarugas, Testudinata. Embora sejam répteis e sejam bem antigos, não são dinossauros.

A tentativa dos fundamentalistas em adaptar a Bíblia aos fatos é fracassada. O termo hebraico “tanniyn” é demasiado vago, não servindo para identificar animal algum. Pode ser usado para designar um animal muito grande ou monstruoso, real, como as baleias, ou não. Leviatã e Behemoth são apenas animais mitológicos, como esfinge, quimera, fênix, dentre outros. Não há nada que nos leve a crer que se refiram a seres reais, menos ainda a dinossauros, já que estes estavam extintos há muito tempo quando o livro de Jó foi escrito. Também é falha a busca por evidências arqueológicas e paleontológicas que provem uma convivência de homens com dinossauros. A maioria das evidências criacionistas são fraudes (mas não feitas por eles) ou erros de interpretação. Finalmente, o absurdo de afirmar a existência de dinossauros no nosso tempo também não se sustenta. Talvez até exista algum, mas não conhecemos nenhuma evidência disso e os que a defendem, fazem isso mais por paixão que por razão.

Sendo assim, a pergunta permanece no ar: se o mundo tem apenas 6.000 anos, como querem os fundamentalistas, o que aconteceu com os dinossauros? Por que Noé não os salvou? Por que a Bíblia ou outro documento antigo não os descreve? Por que não há evidências de que foram contemporâneos dos homens? Por que ninguém os retratou? Por que nunca foi encontrado um Dino ao lado de um animal moderno? Por que foram extintos? De onde vierem estes fósseis tão antigos? Seria melhor voltar atrás e dizer que os dinossauros nunca existiram, que são fraudes dos maçons ou que os fósseis foram colocados por Deus para testas nossa fé ou pelo Diabo para nos confundir...

Igor Roosevelt

Publicado no Recanto das Letras em 08/11/2009
Código do texto: T1912105